A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

110 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica o ponto mais importante que o conceito de segunda escravidão trouxe para a História Econômica tenha sido demonstrar um dinamismo muito maior, em nossa economia, do que o enxergado pelas visões estereotipadas que apontavam um atraso estrutural provocado pela escravidão e grande dependência em relação ao mercado internacional. É necessário, porém, avançar para além de estudos que analisam o complexo cafeeiro da Região Centro-Sul, das modernizações por ele geradas e dos embates e debates políticos e discursivos do período, e avançar para a compreensão mais refinada de que o país era “diverso ” e “ desigual ” . 10 Nesse ponto, os estudos sobre a segunda escravidão, ao oferecerem comparações com processos que ocorriam em outras partes das Américas, nos dão importantes indicativos de dinâmicas semelhantes, que associam a aparente contradição entre modernização econômica e o reforço da escravidão. Tal relação aparece diretamente em textos como o de Dale Tomich e Rafael Marquese, O Vale do Paraíba escravista e a formação do mercado mundial do café no século XIX , que aborda a expansão da cafeicultura no país, mais especificamente no Vale do Paraíba, em perspectiva com a produção declinante da Antilhas e particularmente de Cuba (Marquese; Tomich, 2009, p. 339-383). Em outro texto de Rafael Monzote e Dale Tomich, Fronteira açucareira e revolução industrial em Cuba, 1815-1870 , os autores demonstram que a modernização da produção açucareira em Cuba se deu nos quadros de uma renovação do sistema colonial hispânico, e sugerem fortemente a relação entre escravidão e modernização no final do século XVIII e primeira metade do século XIX. A instalação dos primeiros engenhos a vapor na ilha, ainda no século XVIII, foi implementada em conjunto com a modernização e expansão da produção açucareira e o incremento da presença escrava africana via tráfico. A relação com os processos de expansão e diversificação das economias regionais brasileiras parece inevitável: aqui, como em outras partes das Américas, o crescimento da produção se fazia incorporando aos quadros damoeda colonial (a saber, terras, escravos emonopólios ) as inovações tecnológicas originárias da própria Revolução Industrial (Tomich; Monzote, 2010, p. 65-117). No Brasil, tanto no Sul, como no Nordeste, levando em consideração suas dimensões continentais, várias culturas utilizaram mão de 10 Tiramos a ideia de “diverso” e “desigual” da obra de Marcondes, (2009). Nesta pesquisa, o autor demonstra a posse escrava e as diversas atividades econômicas a partir de amplo levantamento de fontes regionais cotejadas pelos dados do censo de 1872. A conclusão do autor da centralidade da economia cafeeira do Centro-Sul não retira, entretanto, as especificidades dos complexos econômicos de outras regiões do país.

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