A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

102 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica Como podemos perceber nos dados da tabela, o volume de exportações de praticamente todos os produtos (medidos em libras esterlinas) cresceu de maneira significativa ao longo do período imperial. E isso, sem levarmos em conta a perda dos valores nominais das commodities exportadas, dado tanto pela concorrência externa, como pela deterioração dos meios de trocas com as nações industriais. O crescimento espetacular do café não oblitera que todos os demais produtos também tenham tido comportamento ascendente. 5 O caso do algodão nos parece peculiar, por ser um produto voltado para o mercado internacional e, ao mesmo tempo, atender à demanda do mercado interno que cresce e se diversifica cada vez mais, materializada, de um lado, pela protoindústria conforme estudo pioneiro de Douglas Cole Libby (Libby, 1996), e, de outro, pelo crescimento do número de fábricas têxteis no Brasil, ainda na primeira metade do século XIX, como estudado por Geraldo Beauclair de Oliveira, mostrando-se ainda mais intenso na segunda metade do Oitocentos, como tratado por diversos autores. O tabaco teve comportamento semelhante, tendo sua produção voltada para as exportações, mas, também, para o mercado interno, como matéria-prima para a produção de charutos e cigarrilhas, inicialmente de forma artesanal e, posteriormente, em várias fábricas de charutos fundadas no Recôncavo da Bahia e em outras províncias (Silva, 2015). Essas interpretações das mudanças estruturais da economia brasileira já haviam sido apontadas por diversos estudos de historiadores e economistas desde pelo menos a década de 1960, como viemos tentando demonstrar. O fato é que os cativos introduzidos na primeira metade do século XIX se concentraram em algumas regiões de maior dinâmica agroexportadora. Na imagem abaixo, podemos perceber dois pontos principais: a disseminação da posse dos cativos como traço característico de nossa nacionalidade, dado pela dispersão da propriedade escrava em todas as regiões do país, e a grande concentração escrava em algumas regiões, diretamente relacionada às atividades agroexportadoras. Além da grande concentração de escravos nas áreas cafeeiras do Centro-Sul (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo), a presença escrava também se fazia sentir em proporções significativas (pelo menos mais de 5 O algodão brasileiro terá um comportamento atípico, dado pela alta durante a Guerra da Secessão nos EUA (década de 1860). Já o açúcar e o fumo enfrentarão conjunturas de crise ao final da década de 1880, porém, irão aumentar de importância nas décadas seguintes do regime republicano. Particularmente, o comportamento do cacau e da borracha durante o final do século XIX e início do XX reforçam essa tendência de crescimento.

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