Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Nietzsche: das forças cósmicas à economia ecológica integral 163 progressista, propondo um retorno da humanidade à sua própria natureza, onde reside a integralidade da vida. Nosso itinerário percorre três movimentos. Iniciamos mostrando que o filosofar em Nietzsche consiste em apontar para um fundamento novo, não mais aquele que, até então, permeou o pensamento metafísico, o Ser, mas um fundamento sem fundamento, aparentado ao devir. Intitulamos este “Do ser ao devir, um novo fundamento”. Na sequência, aprofundando o aspecto do devir como fundamento do filosofar, chegamos ao entendi- mento de que o expediente racional não serve mais para dar cabo a este novo empreendimento filosófico, mas a intuição. Intitulamos este “Da razão à intuição, uma filosofia de totalidade”. Por fim, para realizarmos uma in- cursão sobre a meta para a qual se coloca a filosofia de Nietzsche, não mais aquela da busca da verdade e sim da afirmação da vida, pela via das forças, de modo que a verdade torna-se perspectiva, ou seja, um constructo a partir do ponto de vista de cada um, intitulamos “Da verdade à perspectiva, o filósofo artista”. Em cada um destes movimentos, mostramos a importân- cia da filosofia de Nietzsche enquanto expediente genealógico decifrador de enigmas e transvalorador de valores. A genealogia aponta para a perspectiva das forças, empenhadas em estabelecer uma nova ordem, estabelecida não sob uma lógica causal excludente, mas sob a premissa de uma economia ecológica global inclusiva. 1. Do ser ao devir, um novo fundamento A busca pelo fundamento é uma constante no pensamento filosófico, tal como tem sido tradicionalmente compreendido. Este fundamento esteve ligado à inúmeros elementos, desde aqueles da natureza, como é o caso dos pré-socráticos, como do sentido racional transcendente no caso dos clássicos e a razão técnico-científica na modernidade. Nos três exemplos acima, o ser se revela como aspecto fundamental, seja como ser da natureza, como ser da razão transcendente ou ser da razão científica. Nietzsche retrocede àquela problemática inicial que se depreende de Parménides e Heráclito, sobre o ser e o movimento, respectivamente como fundamentos que subjazem a todos as coisas. Se em Parménides o Ser, aque- la realidade estática, serve de fundamento a todas as coisas, para quem tudo o que é fundamental e dá sentido ao todo, em Heráclito é o Devir ( Werden ), aquela realidade em movimento o que serve de fundamento ao todo, de

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