Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Adilson Felicio Feiler 162 de mentira. Ora, parece que o pensamento em Nietzsche vai na contramão do pensamento tradicional em todos os sentidos, desde a forma, o método, até o conteúdo. E não poderia ser diferente, pois o filosofar em Nietzsche consiste numa genealogia, ou seja, numa maneira nova de se filosofar desde a sua base. Nietzsche inaugura um pensamento que ultrapassa toda aquela manei- ra clássica de se filosofar: para tanto, sente a necessidade de retroceder milê- nios da história pregressa da filosofia, até toda a tradição de pensamento que antecede a Sócrates, pois, a partir de Sócrates, o pensamento, na visão de Nietzsche, passa a entrar em decadência, pela associação entre razão e moral como critérios fundamentais do filosofar. Portanto, na visão de Nietzsche, a partir de Sócrates temos o início da modernidade, por causa do expediente da razão que passa a permear toda a filosofia, desde a epistemologia, a ética, a antropologia e a cosmologia. Uma vez perfazendo esse caminho de su- peração do vasto período contemplado pela modernidade, se recuará até o período dos gregos antigos, os quais, de acordo com Nietzsche, representam a verdadeira filosofia. A Grécia Antiga, para Nietzsche, é o berço de onde nasce a filosofia, lá todo o pensamento respira a leveza e a inocência marca- da pela relação entre os seres humanos e os deuses. No entanto, da mesma forma em que há inocência há também luta, de modo que a vida e o pensa- mento consistem num campo anímico. A única ordem existente consiste no assenhorar-se, pela capacidade máxima de expressão da força e consequente afirmação da vida, o fim para o qual tende a filosofia de Nietzsche. Pelo envolvimento na dinâmica cósmica das forças, a vida se compreende como totalidade, mediante uma normatividade que brota da natureza e que une superando a moral que separa. Com isso, todas as classes sociais são movidas por um sentimento de poder que as eleva e dignifica, para além daquele sen- timento que as degenera nas malhas de um vitimismo degenerado e acéfalo. Por mais que o pensamento de Nietzsche decorra de uma perspectiva aristo- crata, esta não se expressa em privilegiar uma classe em detrimento de outra, mas em inspirar o sentimento de poder em ambas. E, nesse viés de um sen- timento de poder integral, o pensamento de Nietzsche pode contribuir no sentido de problematizar a maneira como se compreende o gerenciamento das forças que pretende ultrapassar um nível movido pela lógica da política exclusivista e gregária do Estado-nação, para atingir o nível planetário, de uma grande política inclusiva. Com isso, entende-se que o pensamento de Nietzsche se move para além das posturas ideológicas de direita e de es- querda, tanto de um nacionalismo conservador como de uma democracia

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