Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Josenir Lopes Dettoni 148 gem filosófica sobre essa questão, não será possível respondermos à grave crise socioambiental que a humanidade já começa a enfrentar, uma vez que “estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética” (LS, 56). De modo especial, em nosso tempo, em que o avanço tecnológico aparenta ter se estabelecido como paradigma condicionante do modo de vida das pessoas, a própria natureza da ação humana parece ter sofrido mo- dificações, como, por exemplo, afirma Hans Jonas em sua obra O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica . Sob essa perspectiva, alguns posicionamentos éticos tradicionais, mesmo que im- portantes, podem já não ser considerados suficientes para orientar contem- poraneamente nossas ações, tornando-se imperativa a formulação de uma renovada teoria ética. Com efeito, “[...] a humanidade pós-moderna não encontrou uma nova compreensão de si mesma que a possa orientar, e esta falta de identidade é vivida com angústia. Temos demasiados meios para escassos e raquíticos fins” (LS, 203). Nesse contexto, constata-se, de forma preocupante, um acentuado de- sequilíbrio entre o desenvolvimento tecnológico e o desenvolvimento mo- ral. Atualmente, Tende-se a crer que «toda a aquisição de poder seja simplesmente pro- gresso, aumento de segurança, de utilidade, de bem-estar, de força vi- tal, de plenitude de valores» 2 , como se a realidade, o bem e a verdade desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia. A verdade é que «o homem moderno não foi educado para o recto uso do poder» 3 , porque o imenso crescimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento do ser humano quanto à responsabilidade, aos valores, à consciência (LS, 105). Assim, frente aos dramáticos problemas socioambientais que hoje são evidentes, cada vez mais pessoas “tomam consciência de que o progresso da ciência e da técnica não equivale ao progresso da humanidade e da his- tória [...]” (LS, 113). E, muito embora a necessidade de um importante amadurecimento moral seja clara, também se percebe, frente a esse novo paradigma tecnocrático, a falta de “[...]uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe ponham realmente um limite e o contenham dentro dum lúcido domínio de si” (LS, 105). Justamente quando fica clara essa 2 Ver Guardini (1965, p. 87). 3 Ibidem.

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