Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Por uma Educação Ecointegradora: perspectivas decoloniais 103 Estamos muito distantes da visão de educação integral advogada por Comenius e outros/as educadores/as de seu tempo. A finalidade da educação não está mais focada na salvação da alma, mas na produção da materialidade da vida como base para um desenvolvimento pleno das capacidades inte- lectuais, morais e estéticas. Estes exemplos da história moderna servem de advertência para evitar alguma definição definitiva do que seria a educação integral. O uso do adjetivo composto ecointegradora nesse texto tem, por um lado, o sentido de sinalizar que a integralidade é mais adequadamente vista como um processo ou um movimento em busca do que Rousseau (1995) qualificava como a perfectibilidade e Paulo Freire (1981) define como o ser mais . Por outro lado, sinaliza o fato de que hoje o ser humano não pode mais ser dissociado do meio natural em que vive, conforme sinalizado no conceito de justiça socioambiental que serve de parâmetro para o projeto no qual o livro está inserido. Neste artigo nos propomos a fazer um exercício desenvolvido em três momentos, a fim de compreendermos como o pensamento latino-ameri- cano pode contribuir para construção da educação em uma perspectiva integral e eticamente situada. No tópico inicial buscamos situar a noção de educação ecointegradora a partir das discussões sobre decolonialidade da natureza. Argumentamos nessa seção sobre como a dimensão da colo- nialidade da natureza opera para a manutenção de um padrão de poder moderno que coisifica a natureza, tornando-a algo apenas a ser explo- rado. Por fim, propomos que a perspectiva decolonial tem contribuído profundamente para repensarmos o sistema capitalista-moderno como única experiência possível de economia e humanidade. Indicamos que uma dimensão da superação da colonialidade da natureza pode ser viável a partir de pedagogias decoloniais que trabalhem para a promoção de uma educação ecointegradora. Na sequência, identificamos aspectos que negam a integralidade. Con- centramos essa negação em torno do conceito freiriano de desumanização e que se manifesta tanto na desigualdade que historicamente caracteriza a sociedade brasileira, quanto no estreitamento da compreensão de humani- dade restrita à relação entre os seres humanos. Tomamos como base para esta reflexão a proposta educativa de Paulo Freire, também como uma forma de valorizar a sua contribuição para a compreensão da integralidade no contex- to dos festejos dos 100 anos de seu nascimento (1921-2021). Paulo Freire representa, de certa forma, a consolidação de um pensamento pedagógico que busca o que qualificamos como educação ecointegradora.

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