Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Adevanir Aparecida Pinheiro e Camila Botelho Schuck 92 minista negro e à “educação das relações étnico-raciais”. Sabemos do grande peso estrutural que perpassa a nossa sociedade, atravessada pela imagem da “casa grande e senzala”. Quando falamos “ casa comum ”, somos imediata- mente assaltados por essa imagem contrária simbolizada na “casa grande e senzala”. Poderíamos, talvez, gerar uma imagem do título do artigo, sinteti- zando com a chamada: “ casa comum ” versus “ casa grande e senzala ”. É de nosso entendimento que a perspectiva de gênero e particularmen- te a perspectiva do feminismo negro, quando a espelhamos com a imagem da “casa grande e senzala”, tem contribuições específicas incomparáveis para um entendimento mais profundo da complexa relação raça, sociedade e meio ambiente. Pensar ecologia integral, justiça socioambiental ou cuidado da casa comum , sem esta perspectiva seria uma grave limitação. Assim, articulando a ideia das representações sociais de mulheres ne- gras (COLLINS, 1990) e da população negra, em geral, busca-se uma per- cepção do espaço ambiental, por dentro e por fora das instituições, em suas manifestações eugenistas e de servidão. Com este ponto de partida, pau- tando a temática do racismo ambiental e estrutural, o artigo busca um ho- rizonte de resposta na perspectiva de uma ecologia integral. Nesta busca, o feminismo negro, como uma das expressões fortes do movimento negro, em geral, e a “educação das relações étnico-raciais”, são colocados como cami- nhos críticos de ruptura das lógicas estruturais perversas e reprodutoras do racismo e fragmentações desumanizantes do que hoje nos é imposto como grande interrogação: o cuidado da “ casa comum ”. A ideia de “ casa comum ” é apresentada ao longo do texto como grande provocação de referência, que respaldada no paradigma da ecologia integral, lembra a espacialidade de um amplo “pluriverso” de reconhecimento. Este “pluriverso” de reconhecimen- to é a antítese perfeita do universo da separação (cordial) da “casa grande e senzala” que sempre é lembrada como uma marca brasileira. Usamos o caso de Saartjie Baartman 3 para estruturar a reflexão sobre os conceitos articulados da seguinte forma: em um primeiro momento apre- sentamos como o episódio em questão se torna um caleidoscópio expres- sando as inúmeras nuances de componentes presentes no processo histórico colonial e na questão racial, de classe e gênero, que ele envolve, especifica- mente o significado de um corpo negro em uma sociedade eurocêntrica. 3 A aproximação da memória de Saartjie Baartman, do contexto da dominação colonial africana, com a realidade da “casa grande e senzala” do contexto colonial brasileiro não deve gerar confu- sões de informação. O que se quer transmitir é a mente e cultura colonialista, racista e machista que atravessa todas as fronteiras do mundo ocidental.

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