Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Sinivaldo Silva Tavares 24 Sendo assim, qual a razão de se continuar falando em “ecologia inte- gral”? Toda ecologia não seria, ao fim e ao cabo, integral? Qual o sentido, portanto, de acrescentar o adjetivo integral ao substantivo ecologia? A le- gitimar esse recurso não seria eventualmente a consciência de que, dada a complexidade intrínseca à ecologia enquanto tal, seja necessário o emprego de adjetivos no intuito de distinguir e explicitar, uma a uma, cada dimensão que, articulada às demais, compõem essa intrincada trama? 1. Distinção e explicitação de dimensões constitutivas de Ecologia Ao longo das últimas décadas, sentiu-se a necessidade de acrescentar adjetivos ao substantivo “ecologia” para, assim, explicitar dimensões outras que não fossem redutíveis apenas ao âmbito da biologia. E isto se deu, basi- camente, pelo fato de o termo ecologia ter sido, impropriamente, identifi- cado sempre mais com “ambiente” apenas. E, consequentemente, discursos e práticas ecológicas foram sendo cada vez mais compreendidos como rela- tivos única e exclusivamente à defesa do ambiente, concebido como mero cenário da presença e atividade humanas. Em última instância, reduzir a complexidade da ecologia à dimensão ambiental trairia a presença do inve- terado antropocentrismo moderno. Não temos, aqui, a pretensão de reconstituir o inteiro processo no inte- rior do qual foram sendo acrescentados adjetivos ao termo ecologia para expli- citar várias de suas dimensões constitutivas, no intuito de articulá-las recipro- camente e não de separá-las e menos ainda contrapô-las. De resto, nem seria aqui o lugar para fazê-lo (KERBER, 2006, p. 61-85). Talvez seja oportuno, a tal propósito, salientar que a explicitação das outras dimensões se deu a partir da delimitação da assim chamada ecologia natural ou ambiental. Conheci- da é a proposição feita por Félix Guattari de três ecologias: natural, social e mental (GUATTARI, 1990). A ecologia natural se ocuparia do ambiente e de questões conexas; a social, das questões referentes às relações intersubjetivas e sociais; e a mental diria respeito à subjetividade das pessoas. A ecologia social desenvolveu-se mais no sul global (SHIVA, 1991) e, de modo especial, no continente latino-americano (GUDYNAS, 1988; 1991). Nessas latitudes, buscou-se articular o grito da Terra ao grito do po- bre, desmascarando a cumplicidade entre crise ambiental e injustiça econô-

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