Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Joelson de Campos Maciel 132 Essas são algumas questões levantadas neste trabalho, no qual que- remos pautar um processo concreto de tomada de decisão em relação a determinado empreendimento energético no estado do Mato Grosso. Um retorno ao “ sapere aude ” (ouse saber) de Kant evoluindo para o “ conscious aude ” (ouse ser consciente-responsável) de Hans Jonas nos ajudará a ques- tionar, a partir de um ponto de vista filosófico, os processos de tomada de decisão com relação a empreendimentos energéticos, mediante um exemplo concreto. A título de informação e para permitir ao leitor uma leitura mais contextualizada e circunstanciada, o texto faz, igualmente, um breve traçado do mapa geral dos empreendimentos energéticos do Brasil. Sapere Aude ! Em tradução livre, “sapere aude” significa “ouse saber” ou “atreva-se”. Posteriormente ampliou-se o seu sentido político para “rompa os mares”, “domine a natureza”, a razão é o seu único limite, não há ética que impeça a sua jornada. Essa expressão latina, embora seja muito antiga e remonte à carta 2 do livro 1, verso 40 de Horácio (65 a.C.-8 a.C.) (PICCOLO, 2009, p. 34), representou o grande mote de destruição global realizada pelo Ilumi- nismo em relação ao conhecimento da época e possui um sentido amplo, não se restringindo somente ao campo da ciência. Assim, deu-se uma grande mudança no conhecimento herdado da Escolástica, especialmente quanto à sua metafísica, que era vinculada à ideia de Deus imanente ao universo, surgindo, inclusive, um pouco antes, a teologia como campo separado do conhecimento. Aconteceu uma profunda e radical crítica dos padrões científicos (Ne- wton), sociais (Rousseau), costumes (Diderot) e religiosos (Voltaire). O Iluminismo (Aufklärung) representou uma empresa de demolição global por meio do racionalismo seiscentista com Descartes, Leibniz e Spinoza, bem como do empirismo inglês, com Locke e Hume, provocando rupturas na razão científica, moral e artística da época. Por outro lado, pode-se igual- mente caminhar sob dois aspectos desse fenômeno, ou seja, tanto em rela- ção ao espírito vivificador e destruidor do Aufklärung, quanto à letra morta produzida por ele, já que, mesmo naquela época, “havia mais a preocupação em aniquilar os sistemas existentes que propriamente o retorno ao viver filosófico autêntico e antigo” (ROUANET, 1987, p. 203).

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