A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

45 Ana Carolina Einsfeld Mattos, Priscila dos Santos Góes e Vanessa Ruffatto Gregoviski nais às estratégias terapêuticas, o recurso a modalidades de intervenção oriundas de diversas orientações teóricas, etc.) (BEZERRA JR., 2007). O sucesso do movimento da Reforma pode ser medido em parte pelo fato de que ninguém mais resiste abertamente ao ideário antimanicomial. Mesmo os defensores dos hospitais psiquiátricos que tentam reverter os dispositivos legais e as articulações políticas que sustentam o novo cenário psiquiátrico no país afirmam estar de acordo com as diretrizes gerais do movimento transformador da assistência, centrando suas críticas e reivindicações no que apresentam como insuficiências ou inconsistências do novo modelo assistencial (BEZERRA JR., 2007). Assim, percebe-se que os grupos sociais se dividem na perspectiva de dois modelos de cuidado em saúde. Há aqueles que consideram o modelo biomédico mais eficaz e há outros que são a favor de um fazer psicossocial, onde não se olha só a biologia da doença, mas também toda a interferência da sociedade e natureza para a vida do indivíduo. Mas como que, na prática, a clínica e o psicossocial se entrelaçam? Percebe-se que temos um novo modelo assistencial com muitos resquícios de uma clínica manicomial. A reintegração da dimensão psicossocial ao ensino e as práticas em saúde, visando à construção de uma modelo biopsicossocial em composição ao modelo biomédico que se cristalizou nos últimos séculos, tem ganhado impulso a partir de contribuições que emergiram de diversas áreas de conhecimento, particularmente a partir do início do século XX (DE MARCO, 2003). Segundo De Marco (2006), o modelo psicossocial proporciona uma visão integral do ser e do adoecer que compreende as dimensões física, psicológica e social e quando incorporada ao modelo de formação coloca a necessidade de que o profissional, além de aprender e evoluir as atividades técnico-instrumentais, evolua também as capacidades relacionais que permite o estabelecimento de um vínculo adequado e uma comunicação afetiva. Dessa forma, as terapias sairiam do escopo exclusivamente medicamentoso, ou preponderante, e o sujeito ganharia destaque como participante principal no tratamento. A família, e eventualmente um grupo mais ampliado, também deveriam ser incluídos como agentes fundamentais do cuidado. No que se referiria às instituições de cuidado, a atuação seria de natureza interprofissional, superando o formato “linha de montagem” das equipes multiprofissionais clássicas. No que tange às formas de organização da instituição, o organograma deveria ser horizontal, primando por princípios de descentralização e propostas de participação popular e dando ênfase não apenas à dimensão técnica das práticas, mas também à sua dimensão ética. As formas do relacionamento com a clien-

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