A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

26 Nota conceitual – a emergência de um novo paradigma: saúde é mais que ausência de doença Para Mendes (1996) saúde diz respeito à ordem de produção social que expressa a qualidade de vida de uma determinada população, abrangendo, por exemplo, questões culturais, de habitação e de acesso a bens e serviços econômicos e sociais. Já Nogueira (2010) nos convoca a pensar a saúde e a doença como fenômenos ontológicos, unicamente acessíveis pelo pensamento, quebrando com o legado da prática médica técnico-científica, à qual não cabia interpretar o que é a saúde e a doença. A partir deste novo modo de enxergar, abre-se espaço para trazer à luz o conceito de Determinantes Sociais da Saúde (DSS). O entendimento de que a saúde e a doença na coletividade não podem ser explicadas exclusivamente nas suas dimensões biológica e ecológica, inscrevem a necessidade de adentrar-se em fenômenos que são determinados, social e historicamente, enquanto componentes dos processos de reprodução social, abrindo uma lacuna para novas análises e intervenções sobre a realidade (PAIM, 1997). Esta nova concepção exige mudanças no setor saúde, bem como alterações mais profundas em outros setores, no Estado, na sociedade e nas instituições. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, adota por definição de DSS as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Já Buss e Pellegrini Filho (2007), caracterizam três abordagens a serem levadas em conta ao falarmos de DSS: a primeira delas privilegia os aspectos físico-materiais na produção da saúde e da doença, entendendo que as diferenças de renda influenciam a saúde pela escassez de recursos dos indivíduos e pela ausência de investimentos em infraestrutura comunitária (educação, alimentação, transporte, saneamento, habitação, serviços de saúde, etc.), decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas. Outro enfoque privilegia os fatores psicossociais, explorando as relações entre percepções das desigualdades sociais, mecanismos psicobiológicos e situações de saúde, com base no conceito de que as percepções e as experiências de pessoas, em sociedades desiguais, provocam estresse e prejuízos à saúde. Os enfoques ecossociais e os chamados enfoques multiníveis buscam integrar as abordagens individuais, grupais, sociais e biológicas numa perspectiva dinâmica, histórica e ecológica (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Em suma: determinantes sociais em saúde são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Outra noção que foi germinada a partir do ideário

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