Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

59 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA "A MORADA É UMA CURANDEIRA": O FEMININO ENQUANTO FORÇA Figura 16: Deusas feito N’ós. Acervo CoMPaz. Apresento aqui parte do material de minha tese de doutorado 1 em de- senvolvimento, uma etnografia junto à Comunidade kilombola 2 Morada da Paz, formada majoritariamente por mulheres negras. O argumento que desenvolvo pauta-se por uma provocação ao pensamento produzida por algumas feministas descoloniais (LUGONES, 2008; 2011; OYERÙMÍ, 2017) que compreendem os sistemas de gênero, e sexo, como imposições oriundas do processo colonial. Aproximo-me de Oyerùmí (2017) quando argumenta que seria possível romper com uma percepção universalista e totalizadora do gênero, sistema de poder e de hierarquização de caracte- 1 Texto originariamente publicado em: FLORES, Luiza Dias. AMorada é uma curandei- ra: o feminino enquanto força. Campos (UFPR) , v. 19, p. 37, 2018. 2 Afirmam-se kilombolas e não quilombolas, como um modo de recuperar o sentido dado ao termo na língua banto, como fortaleza, união. Utilizam-se deste termo também como uma contraposição às designações do Estado, como chamam “a língua do colonizador”, afirmando-se sobreviventes e não “reminiscentes de antigos escravos”.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz