Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

21 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA INTRODUÇÃO Somos uma Comunidade. Uma ComUnidade. Somos na maioria mu- lheres negras oriundas da borda e criadas por outras mulheres que, da bei- rada da vida, abriram caminhos resilientes. Sua luta, sua (r)existência nos fizeram hoje mulheres livres. Sim, é o que somos, Pessoas Livres. Muitos caminhos percorremos para que, o que somos hoje, se expres- se com singeleza e força, nossos caminhos de tão de longe ancoram marcas de sobreviventes em nosso lombo, o que faz de nosso Kilombo um espaço que acolhe todas e todos com o coração puro e valoroso porque carrega como princípio o Amor e o Respeito. Somos cultura como espaço de cura. Somos educação como espaço de transformação. Somos saúde como espaço de acolhimento. Somos espi- rituais como poder de estruturação pessoal e coletivo. Devotos dos Òrí ş ás – Deidades e Divindades, é nossa Mãe Preta que conduz o caminho e guia nossos passos no aiyê, ela nos ensina que uma pessoa de fé não barganha nem apresenta condições às Deusas e aos Deu- ses, que, com seus ensinamentos, sempre fazem refletir: de que vale a fé sem ação? No Território de Mãe Preta, dentre tantos aprendizados, saber que a verdade é uma experiência e não uma crença nos ensina a ter muito mais esperança do que certezas. Amparada por este campo atmosférico de esperança ao invés de cer- tezas de que a Comunidade Kilombola Morada da Paz se tornou Ponto de Cultura; fundou o Coletivo de Pesquisadoras e Pesquisadores Kilombolas – OKARAN; o Instituto CoMPaz; a Escola Comunitária Kilombola Epè Layié – ComKola. E segue maneando ventos de desafios, bulindo, na terra do im- possível, sementes de esperança e novas possibilidades. Aceitando o que não se pode mudar e mergulhando de cabeça no sonho tangível e, desse modo, vivemos, nos movemos e existimos. O que você irá experienciar com a leitura deste livro é um singelo regis- tro tecido por muitas mãos sobre nosso jeito de ser e viver. Que nossa escrita esteja melhor em nossas mãos honrando nossos ancestrais e que se torne ain- da muito melhor nas mãos daqueles que virão depois de nós para que deem continuidade à nossa história. E para que você, leitora e leitor, acredite! Yashodhan Abya Yala Yalasé da Nação Muzunguê

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