Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

15 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA APRESENTAÇÃO Alan Alves-Brito "A consciência é o pilar dos tempos". Mãe Preta Um dos maiores desafios do Brasil do século XXI é, certamente, ra- cializar-se, democratizar suas estruturas que subalternizam, invisibilizam, exterminam e retiram corpos negros, femininos e de povos originários dos espaços de poder, do protagonismo tecnocientífico, filosófico e de todas as esferas de produção de conhecimento. O combate ao mito da democracia racial no Brasil é uma luta sem tréguas e, nesse sentido, do ponto de vista acadêmico, a vida contemporânea nos impõe desafios que a modernidade sequer um dia vislumbrou. Quando se tratam das questões étnico-raciais e de gênero no Brasil, são necessárias novas estratégias ontoepistemológicas não apenas para fortalecer e estender cidadania, mas, principalmente, para promover a justiça social pela qual os corpos negros, em particular, lutam há séculos. As “maiorias silenciadas” do Brasil, como bem nos lembra Lé- lia Gonzalez, já não aceitam mais a máscara do silenciamento . Segundo dados da Comissão Pró-Índio de São Paulo, existem hoje no Brasil (março de 2020), 1.767 comunidades kilombolas com proces- sos abertos e 181 tituladas. Entre esses territórios (ainda) não titulados, mas já autorreconhecidos pela Fundação Cultural Palmares, está o da Co- munidade Kilombola Ecológica Morada da Paz – Território de Mãe Preta (CoMPaz), um locus de (r)existência no interior do Rio Grande do Sul, estado brasileiro de complexa historiografia negra, marcada por omissão e silenciamento no âmbito do racismo estrutural e estruturante que marca as relações hierarquicamente racializadas no Brasil. O livro Um jeito de ser e viver no Kilombo de Mãe Preta, do Coletivo Okaran, escrito por pesquisadoras e pesquisadores kilombolas da Univer- sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da CoMPaz, traduz, ma- terial e simbolicamente, o significado mais essencial das questões étnico- -raciais e de gênero de nosso tempo no âmbito da existência universitária: a revolucionária indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz