O lugar do saber - Márcia Wayna Kambeba

63 O LUGAR DO SABER pescar, a remar, a fazer a roça, a produzir a farinha, a construir a casa, tecer a palha, preparar o pajauaru, caiçuma, bejú, a cantar, dançar, a fazer o artesanato, a respeitar a cosmologia do povo, a silenciar e ouvir os conselhos dos mais velhos, a curar com ervas, a sentir as energias boas vindas da natureza e das pessoas, etc.; são lições que se aprendem desde o raiar do dia. Mas é preciso saber ler e escrever e a aldeia entende que a criança deve estudar na escola do “branco” para contribuir com o povo na luta pelo respeito e direitos institucionais e legais aos povos. Respeitar a cultura do outro, deve ser também uma constante na vida de todos os que vivem na cidade e na aldeia, pois, compreende- -se que identidade não se perde com a saída do indivíduo de seu lugar (aldeia), ele é e será sempre o mesmo com ou sem aldeia, vivendo na cidade, comendo com garfo e faca, vestindo terno e gravata porque seu ser é carregado de memórias e representações identitária. E não existe uma cara de “índio”, um estereótipo, existe o “individuo” que carrega a responsabilidade em sua afirmação de ser quem é Tukano, Kambeba, Guaraní, Tembé, Mundurucu, Macuxi, Kayapó, Pataxó, Tupinambá, Kocama, Tikuna, Mura, Suruí, Arara, Parakanã, Cariri-Chocó, Parakanã, Gavião, Miramha, Assurini, Matis, Kaingang, Xavante, Terena entre outros. Hoje muitas aldeias estão perdendo seus rituais, suas danças, mas suas narrativas continuam sendo transmitidas. Esse é um entrave vivenciado pela sociedade indígena por conta do contato com a sociedade não indígena. A cultura do outro não pode de maneira alguma interferir no que se tem de mais precioso que é a identidade e o modo de vida nas aldeias. Assassinar a cultura de um povo é o mesmo que assassinar o povo, a isso chamamos etnocídio. Vamos respeitar a vida, respeitando a natureza e os povos indígenas em sua totalidade de serem filhos do sol, da água e da terra. Por fim, território é um espaço de identidade ou pode-se dizer que é um espaço de identificação. O sentimento é a sua base e a forma espacial importa muito pouco, pois esta pode ser variável. O território pode também ser imaginário e até mesmo sonhado. E, pensando nesse imaginário, nesse sonho que sua construção tem início.

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