O lugar do saber - Márcia Wayna Kambeba

50 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 1 VIDA DE RIBEIRINHO Na seca outra missão, Pegar água é um tormento, Secou o rio, o canal fica lamacento, O trapiche ficou longe Um ajuri para fazer escada com corrimão. Antes quando vinha a seca Tudo era diferente, Não se tinha peixes morrendo, Tempo bom para trabalhar. Mas mexeram no clima, Derrubaram a vegetação, Hoje a seca e a enchente Causam grande destruição. Muito lixo nos canais, Atrapalhando o caminhar, Poluindo nossas águas, Ficou difícil de banhar. E ainda há quem pense Que ribeirinho vive à toa, A lida não é fácil, Não se tem vida de patroa. Só que o ar é mais puro, A comida é saudável, Não há correria até a condução, A canoa está ao dispor, Meu trocado carrego na mão. Adoeceu? Tem a rezadeira. Remédio vem da mata, A beleza que temos cá, Faz-nos cuidar do que resta, Essa é a vida na floresta. Quem pensa que o ribeirinho Leva uma vida pacata, Precisa ter a vivência, Conhecer antes de falar Que aqui nas barrancas A vida passa devagar. Tem o período das enchentes Trabalheira pra danar. Primeiro faz-se a maromba Para o gado não se afogar. A casa vira uma arca O ribeirinho vira Noé, Conviver com animais, De intruso o jacaré. É porco, galinha, Jabuti, andorinha, Até pela cozinha Tem um papagaio a falar: Olha enchente! Eu não quero afogar! Baixou a água, A bicharada Para terra vai voltar, Tudo vai se arrumando Cada bicho no seu lugar. É hora de cuidar do prejuízo Trocar a palha e a madeira, Plantar a roça na várzea, Fazer farinha de macaxeira.

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