A capoeira joga com a dureza da vida

83 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA confronto com outros grupos étnicos e políticos – trazem à tona as lembranças de um passado, seja mítico ou real, que dá sentido ao contexto da mobilização quilombola e produz formas políticas possíveis (RAMOS, 2015, p. 47). Confesso que essas vivências de campo seguidamente me comovem, porque as ações do Quilombo do Machado em vias e espaços públicos se tornam exemplos práticos de etnicidade, pois reúnem gerações de sujeitos em um só evento na busca por reconhecimento e valorização étnica, fortalecendo quilombolas urbanos que reivindicam seu direito ancestral e constitucional à terra e moradia e acabam subalternizados pelo racismo institucional. Faz-se instigante o caráter subversivo das manifestações do Quilombo dos Machado. Essas ações de rua são simultaneamente protesto e apresentações artísticas. O que sinto ao vivenciar essas intervenções que envolvem movimentos de Capoeira Angola, cantorias e toque de instrumentos, uma atualização da resistência palmarina. Nascimento, em “O quilombismo”, constatou: [...] De fato as culturas africanas são aquilo que as massas criam e produzem: por isso elas são flexíveis e criativas, assim como bastante seguras de si mesmas, a ponto de interagir espontaneamente com outras culturas aceitando e incorporando valores ‘científicos’ ou/e ‘progressistas’ que porventura possam funcionar de modo significativo para o homem, a mulher e a sociedade africana (NASCIMENTO, 1980, p. 46). O Quilombo dos Machado é subversivo por si mesmo, pois subverte a ordem social. Muitas propostas foram apresentadas durante a reunião, propondo alternativas que resultassem em visibilidade e ações afirmativas para o enfrentamento às discriminações e ataques direcionados ao Quilombo dos Machado (ver anexo). Professor Caçapa apresentou os dias da semana em que desenvolve aulas de capoeira na sede da associação e convidou todos e todas para comparecerem, pois podem apenas assistir aos movimentos da capoeira e, até mesmo, se aventurar a tocar o berimbau, cantar e tocar os demais instrumentos da capoeira; ao mesmo tempo, reforçou: “A Capoeira Angola é o nosso carro-chefe”. Em seguida, um homem aparentando ter 40 anos de idade falou: “Podemos for-

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