A capoeira joga com a dureza da vida

77 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA cotidiano desse jovem que é reconhecido como um “bom sujeito” pela comunidade e pela família e tratado como bandido fora desse contexto de sociabilidade. Esse jovem negro é aluno de capoeira do líder da comunidade há 3 anos. Segundo ele, “a capoeira traz força para encarar as dificuldades do dia a dia. Capoeira não é só luta, eu curto as músicas também”, diz ele. Demonstrando habilidade no berimbau, ele relata: “Eu fazia letras de funk antes da capoeira, mas agora estou fazendo letras de capoeira, e canta: Saio pensando na capoeira, volto pensando na capoeira, como eu podia tá de bobeira, ta lá na rua fazendo besteira”. Cantou o jovem negro capoeirista. “Esse é o verdadeiro jogo fora da roda!”, acrescenta Jamaica, o professor e líder do quilombo, demonstrando orgulho e satisfação pelo desenvolvimento do jovem aluno. A associação de moradores é o local de treinamento dos jovens. Entre os alunos(as), o líder revela que a faixa etária varia dos 8 aos 20 anos de idade e todos treinam e aprendem juntos. “A capoeira é o primeiro lance de resistência aqui da nossa comunidade”, diz o líder. Ele relata que começou a aprender capoeira em um Centro Comunitário próximo ao quilombo. Seu instrutor era aluno de Mestre Ratinho e ele revela que, ao conhecer o mestre de seu instrutor, escolheu treinar com o mestre e sentiu um fortalecimento interior e que, a partir disso, não admitiu mais que o chamassem de “neguinho”, mas sim de “negão”. E conta que passou a aprender que não se joga capoeira só na roda, mas fora da roda também. Ele revela que, Na capoeira com Mestre Ratinho, que é um homem branco, eu aprendi a bater no peito e dizer: “Peraí, eu não sou neguinho. Eu sou negão”. Foi onde fui me fortalecendo e através disso o fortalecimento dentro do meu quilombo, onde eu sou referência, sou liderança.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz