A capoeira joga com a dureza da vida

14 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 Os encontros do grupo de estudo sempre chamaram a atenção pelo caráter subversivo na reivindicação por reparações acerca da representatividade negra em inúmeros temas da vida cotidiana e na agenda política nacional e por seu protagonismo na produção de conhecimento acerca da história sobre as vítimas do tráfico negreiro e seus desdobramentos. Anos depois, esses movimentos nacionais de pleito de reparação histórica e reconhecimento cultural impulsionaram estudos, pareceres e a promulgação da Lei nº 10.639/2003, aprovada oito anos após essa movimentação intensa de iniciativas autônomas e paralelas ao ensino formal que já o faziam por conta própria. O encontro com a Capoeira Angola e suas práticas de resistência despertou-me o interesse em cursar o ensino superior. Assim sendo, no ano de 2009 ingressei no curso Licenciatura em Ciências Sociais da UFRGS. Considero importante destacar que desde o início da graduação procurei colocar a capoeira como tema principal dos trabalhos nas disciplinas e, desse modo, estimular e fortalecer o interesse, o acesso e o vínculo com a Universidade entre capoeiristas e demais pessoas engajadas, como eu. Portanto, a reivindicação acerca da temática da negritude na escola básica e cursos e disciplinas das universidades me acompanhava antes mesmo da entrada na universidade. E, conforme o esperado, era diminuta a representatividade da temática da negritude. A temática da negritude ainda é pouco presente e existem poucas disciplinas diretamente intituladas e, vez por outra, está imbricada em bibliografias que envolvem a cultura brasileira ou alguns outros trabalhos que tencionam as emergentes alterações epistemológicas. Compartilho da visão de Nilma Lino Gomes (2017) em: [...] A teoria e a experiência prática são vistas como diferentes formas de viver e de sistematizar o conhecimento do mundo, pois é no mundo que a vida social se realiza. Por isso não cabe hierarquia entre elas. No conhecimento-emancipação há toda uma leitura crítica dos motivos políticos, ideológicos e de poder por meio das quais a dicotomia entre saber e conhecimento foi construída. Ele tem conhecimento dessa dicotomia; porém, não se limita a ela. Antes, tenta ultrapassá-la (GOMES, 2017, p. 59), Em 2016, já licenciado em Ciências Sociais, fui curador do projeto Cine Reflexão em parceria com o Museu de PortoAlegre Joa-

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