A capoeira joga com a dureza da vida

119 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA dade. No trabalho de capoeira passaram cerca de quatrocentas crianças na minha mão e eu já era bem conhecido por todos os adultos e formadores de opinião dentro da comunidade. E eu pensei pra mim, bah, o único cara que tem essa chance sou eu, qualquer outro que entrar ali eles vão matar, entendeu?! Porque uma facção vai pensar que é da outra. Em 2017, meu velho, aí eu entrei pra dentro do terreno e comecei a limpar. Quando eu comecei a limpar já vieram me apertar pra saber quem eu era, como eu cheguei e o que eu queria ali. Perguntaram: Ô, meu, o que tá fazendo aí? Eu falei: Ô, meu, aqui agora nós vamos limpar, vai ser uma associação, um trabalho no ensino da capoeira e que, bah, agora existe uma associação de moradores e isso aqui vai virar um espaço cultural. Sempre com esse diálogo, com essa política. E os caras, tá. Todos armados, 3 caras. Vieram aqui três vezes, tanto de uma facção quanto da outra, sempre armados. Sempre encerravam o diálogo com o: ‘Tudo bem, por enquanto, tudo bem’. Uma facção uma vez me pressionou dizendo que eu era da facção rival e estava botando uma boca aqui. E eu retornava a dar a mesma explicação. Eu continuava limpando a área e dizendo que seria um espaço cultural na comunidade, que o terreno seria fechado e não seria mais passagem. Na verdade, o traficante dentro da comunidade, ele não quer ser ruim.40 Então, Cássio Tambor conclui: Aí eu limpei, montei o youth e fiz uma cerimônia: rezei afirmando que estava limpando o terreno para um espaço cultural, para a capoeira e comecei a trazer o pessoal da pracinha para cá. Isso foi 40 Entrevista gravada com Cássio Tambor.

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