A capoeira joga com a dureza da vida

110 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 luz. Então são dezessete anos, ao todo, de trabalho gratuito e voluntário, todos os sábados, falando sobre capoeira”. A experiência com Mestre Churrasco vista por Cássio Tambor Cássio Tambor relata que, ao conhecer Mestre Churrasco, percebeu que “os melhores capoeiristas são os meninos de rua”, conforme disse ele. “Porque, na real, se via isso no axé da roda. Vi pular ali, na Vila Jardim tinha os maloqueiros, os pivetes. Na Vila Jardim e na Bom Jesus os guris voavam com macaquinho, flic, mortal, sabe?! Eram os caras que faziam as maiores piruetas” diz ele. Contagiado pela performance dos capoeiristas, ele me contou que, por volta dos 14 anos de idade, começou a “querer capoeira” e pediu permissão para a mãe. E prossegue: Quero que tu me leve para uma coisa de capoeira. E aí estávamos lá pelo centro um dia e passamos pelo Mercado Público e escutamos aquele som de berimbau e de tambor e eu já grudei na minha mãe e falei: É aqui, e ela entrou comigo e subimos para o segundo piso e entramos numa sala e estava aquele monte de pessoas de baixa renda, que a gente chama carinhosamente de maloqueiro, tava cheio naquela sala. Um monte de pivete de rua e aquele negão baixinho, magro, mas com a musculatura definida dando aula ali. Bah, e eu já: ‘Ô mãe, é aqui que eu quero ficar’. E a mãe: ‘Não, mas bem capaz!’32 Aí, quando eu vi o Churrasco, me apaixonei, aquela coisa toda. Assisti umas duas aulas e a minha mãe não deixou mais, porque tinha que me levar, eu era de menor, pagava passagem e nem 32 Entrevista gravada com Cássio Tambor.

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