A capoeira joga com a dureza da vida

100 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 quando tinha 9 anos e hoje está com 12 anos. Ele mudou no comportamento, ele escuta mais, ele respeita. Às vezes ele tem aqueles momentos de brincadeira porque ele ainda é criança. Mas com os amigos, comigo, em geral eu vi a mudança dele ‘da água para o vinho’. Ele era muito rebelde, eu não sei se era a questão de chamar a atenção. Hoje ele vai para o treino sozinho, me escuta, antes ele não queria nada com nada. Mesmo eu tendo feito capoeira quando era pequena no CECOVE, eu agora estou mais velha e vejo o quanto está sendo importante para o meu filho. Agora estou faz 2 anos treinando, mas, no início, eu dizia para o Caçapa e para o Jamaica: “eu não vou conseguir”. Porque eu tenho um nervo contraído na perna. Tem esses movimentos e eu não vou conseguir. Eles disseram: “Tu vai conseguir, sim”! O que me incentivou foi a Tamirez estar junto, por ser outra mulher, e eu ver a mudança do meu filho. A psicologia pra mim hoje é a capoeira, eu não precisei levar mais ele no psicólogo. Eu cancelei (sabe?!), porque eu vi que o meu filho se encontrou ali. A capoeira abrange tudo, religião, o mestre veio e a gente falou sobre o que era ser um quilombo, tudo isso a gente conversou em um treino e o meu filho não sabia.28 Essa experiência de transformação na vida dessa família quilombola através da capoeira como instrumento de educação converge com Nilma Lino Gomes: A reação e a resistência do corpo negro no contexto do racismo produzem saberes. Estes são, de alguma maneira, sistematizados, organizados e socializados pelo Movimento Negro nas suas mais diversas formas de organização política, as negras e negros em movimento transformam aquilo que é produzido como não existência em presença, na sua ação política (GOMES, 2017, p. 79). 28 Entrevista gravada com Luciana.

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