A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

261 MICROANÁLISE E SEGUNDA ESCRAVIDÃO: A NARRATIVA DOS INDIVÍDUOS E A MODERNIDADE ESCRAVISTA NO VALE DO CAFÉ Thiago Campos Pessoa Pensar a segunda escravidão por meio da microanálise, de partida, nos coloca numa encruzilhada teórica e metodológica sobreo fazerdo historiador: é possível trabalhar com um conceito macroanalítico, construído na perspectiva da Global History , tendo como instrumento de análise os métodos da Micro-História italiana? Em caso afirmativo, quais seriam os avanços no estado da arte, no que tange à historiografia em seu sentido lato, e a da escravidão brasileira, em particular, ao pensarmos processos globais por meio de trajetórias individuais ou da “sociedade dos indivíduos”, como definiu a sociologia de Norbert Elias? (Elias, 1994). As questões despachadas, longe de serem originais, são compartilhadas por muitos historiadores, que se perguntam sobre a efetividade da Micro-História na construção de análises totais ou globais. No início do Terceiro Milênio, o avanço daGlobal History, em suas múltiplas variações, reformula o problema (Revel, 2010). A partir de então, para intelectuais canônicos no campo da microanálise, protagonistas na consolidação do método na historiografia ocidental, a questão passa a ser o quanto os procedimentos de redução de escala nos ajudariam a construir uma perspectiva global para determinados processos e suas temporalidades. Carlo Ginzburg, emMicro-History and World-History , analisa como a redução da escala pode orientar práticas metodológicas profícuas na construção de uma perspectiva generalizante da História. Como ferramenta de análise, o “fechar do microscópio”, ou seja, a troca de lente para uma análise dos detalhes a priori imperceptíveis, permitiria a projeção de novas perguntas sobre o passado, muitas vezes revelando questões advindas de resultados inesperados diante de nossa ignorância empírica (Ginzburg, 2015). A rigor – vale lembrar Carlo Poni –, essa limitação de escala deveria recuar ao microssomo mais individual, ao “nome próprio”, encarado como espécie de fio condutor de diversas histórias individuais, que, por serem também coletivas, tornam-se passíveis de

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