A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

241 SEGUNDA ESCRAVIDÃO E MICRO-HISTÓRIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL Mariana Muaze Neste capítulo, apresento algumas questões acerca do debate interno existente entre os membros do grupo de pesquisa O Vale do Paraíba e a Segunda Escravidão , que, no fundo, atualizam discussões teóricas concernentes à própria construção do objeto histórico e ao método empregado para estudá-lo . Na opinião de alguns, a Micro-História, através da metodologia proposta, seria incapaz de fornecer análises consubstanciais para os estudos da segunda escravidão. Isso ocorreria devido a uma incompatibilidade epistemológica fundada em formas diferenciadas e diametralmente opostas de se pensar a História. De acordo com essa visão, o conceito de segunda escravidão foi cunhado, sobretudo, a partir de uma preocupação de fundo estrutural, com intuito de discutir as relações entre a escravidão atlântica e o capitalismo mundial, enfatizando a longa duração temporal, a macroestrutura e uma história total (Tomich, 2011; 2016). Já a Micro-História destacaria, partindo de trajetórias individuais e casos excepcionais, o tempo curtodo acontecimento, o universo micro da vida humana e a experiência dos sujeitos sociais no cotidiano. Tendo nascido, justamente, como uma resposta à história-síntese braudeliana e marxista, inspiração de muitos historiadores da segunda escravidão, estaríamos diante de uma incompatibilidade fundante. Tais argumentos se somam à afirmação de que, ao fazer a análise do social a partir dos agentes, muitos micro-historiadores operam com os sujeitos históricos como atores autônomos e construtores de suas próprias histórias, sem considerar todos os campos de forças políticas, econômicas, sociais e culturais a que estão submetidos. Guardadas as especificidades do debate em questão, pode-se dizer que a querela também retoma antigas reflexões sobre o lugar da autonomia dos sujeitos na História, e das relações entre indivíduo e sociedade. A desconfiança em relação à Micro-História de alguns historiadores da segunda escravidão se acirra ainda mais quando misturada às críticas feitas à chamada História Social da Escravidão no Brasil. Nesse contexto, os ganhos interpretativos de se pensar a agência escrava, o protagonismo dos cativos, os direitos

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