A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

131 Escravidão e capitalismo: dimensões de uma economia regional no século XIX em 1871. Ambas possuíam ativos relevantes, pelo menos até a Abolição da Escravatura, com uma carteira de crédito expressa, notadamente, por desconto de letras, com recursos integralmente direcionados às operações de curto prazo. Nesse período, foi notório o aumento do crédito disponibilizado pelos dois bancos campistas. Assim, julgamos haver um confortável estoque de crédito nas instituições financeiras locais. Tanto no Banco de Campos, quanto no Banco Comercial e Hipotecário de Campos, o maior segmento da carteira de crédito estava no desconto de letras, seguido dos empréstimos em conta corrente e cartas de crédito, e, por último, embora muito pouco representativas, as hipotecas. As letras descontadas representavam quase 90% do volume de crédito alocado. Dois anos antes da Abolição da Escravidão, mesmo com uma pequena variação positiva no percentual de operações inadimplidas, os empréstimos mantinham valores significativos nos ativos financeiros das duas instituições (Pereira, 2018). O montante apurado nos empréstimos realizados pelos dois bancos, exclusivamente no segmento de letras descontadas, ficou em torno de 25% a 30% do volume emprestado pelos bancos que operavam da Província de São Paulo, na década de 1880 (Marcondes; Hanley, 2010; Pereira, 2018). Os caminhos de ferro expandiram-se rapidamente. A EFCC teve suas obras iniciadas em 1875. Seus trilhos uniam Campos dos Goytacazes às fronteiras com as províncias de Minas Gerais e do Espírito Santo, consagrando um amplo circuito mercantil regional. As boas expectativas em torno da ferrovia de 188 km, uma das mais extensas da província fluminense, giravam em torno da circulação de múltiplas mercadorias que não estavam restritas apenas ao açúcar, cuja produção mantinha-se acentuada em Campos, mas, lideradas pelo café produzido em áreas de ocupação mais recentes, espaços de interseção entre as três províncias. A Cidade de Campos dos Goytacazes transformou-se em um centro de conexão ferroviária. Em seu perímetro urbano, concentravam-se três terminais distintos: o da EFCC, na margem esquerda do Rio Paraíba do Sul, em frente à cidade, na Freguesia de Santo Antônio de Guarulhos; um segundo terminal, servindo a EFCM, cuja extensão era de 104 km até Macaé, prolongada por um ramal até o Porto de Imbetiba, além de integrar outro ramal que, partindo de Campos, chegava a Miracema, passando por São Fidelis e Santo Antônio de Pádua, no extremo norte fluminense, cujo terminal estava localizado na margem direita do mesmo rio; e de um terceiro terminal, da EFCS, com 35 km. de percurso, linha férrea que cobria boa parte da baixada canavieira, cuja estação estava localizada nas proximidades do centro da cidade. Essa malha ferroviária,

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