A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

129 Escravidão e capitalismo: dimensões de uma economia regional no século XIX O café era também o símbolo da expansão capixaba. Para Vilma Almada (1984), a ocupação do Espírito Santo, na segunda metade do século XIX, foi beneficiada pela grande disponibilidade de matas virgens e terras devolutas. Dessa forma, a expansão econômica da província incorporava a resistência ao fim do tráfico ilegal de africanos, entre1850 e 1860, dado o impulso da cultura cafeeira nosaltos capixabas , notadamente na região de Itapemirim, ao sul da província, na interseção entre os vales dos rios Itabapoana e Itapemirim, onde cerca de 80% da população cativa era formada por escravos jovens trabalhando em terras recentemente ocupadas por fazendeiros que migravam do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. A reação ao fim do tráfico na região implicava forte conexão com essas áreas limítrofes (Pereira, 2018). Das 40 mil arrobas de café colhidas em 1850, o Espírito Santo passou a produzir quase 200 mil arrobas do produto, em 1856, um salto de 400% na produção local. Desse mesmo ano até 1872, a população total da província duplicou. A fração da população escrava, no mesmo período, passou de 12.269 para 22.552, ou seja, um acréscimo de 83%. Itapemirim, principal polo cafeeiro da província, teve um aumento total da população da ordem de 128%. A expansão dos cafezais por matas virgens exigia fazendas com maior plantel escravista. Portanto, o sul do Espírito Santo, de um território quase inabitado, transformou-se na região cafeeira mais importante da província. Almada relata que, entre 1850 e 1886, 100% das propriedades localizadas no município de Itapemirim produziam café. Devido à ausência e à deficiência de estradas capazes de escoar a produção, fazendeiros da região utilizavam o Porto de Limeira, no Rio de Janeiro, futura estação terminal de um ramal da EFCC, por onde se escoava o café do extremo sul capixaba até Campos, e daí, até o Porto de Imbetiba, em Macaé, pelos trilhos da EFCM. Campos dos Goytacazes, na segunda metade do século XIX, destacara-se como uma praça mercantil importante, com múltiplos capitais investidos na produção de açúcar, café, indústria, ferrovias e serviços. Sem dúvida, a diversidade de investimentos, em uma conjuntura próxima da superação da produção escravista, fora estimulada pela produção cafeeira. Havia ali indicadores de certa pujança econômica que impulsionava a cidade rumo à modernização. O espaço urbano incorporava inovações em serviços e alguns melhoramentos, renovando o cenário da antiga vila colonial. Tratava-se de um núcleo urbano tomado por vagas da modernidade como ferrovias, eletricidade, bonde, telefone, gás, serviço de água e esgoto etc. Diga-semodernidade em espaço robusto do cativeiro.

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