Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Questionamentos aos grandes empreendimentos na Amazônia na perspectiva da Ecologia Integral... 63 2. A procura da interconectividade dos saberes Para construir a articulação dos saberes e intervenções sobre a reali- dade com este novo paradigma sistêmico é necessário ver a conexão dos diferentes mundos ou realidades e perguntar-se “o que é a realidade mesma do que existe” e como acedemos a seu conhecimento. E, para compreender isso, ajuda a caminhada do conhecimento da realidade no ocidente e ver a proposta nova do papa Francisco. A entrevista do professor Manfredo Araú- jo de Oliveira (2014 apud FACHIN, 2015) fala da novidade que traz a este respeito a ecologia integral proposta pelo papa Francisco. Assim ela resume o pensamento do entrevistado: De acordo com Manfredo, hoje muitos cientistas ou filósofos que adotam uma visão ‘integrada’ dos saberes ainda estão pensando numa perspectiva epistemológica, ou seja, estão ‘dizendo apenas que é preciso juntar química, física, matemática, humanidades, tecnicidades. Mas o papa vai muito além disso, vai numa visão holística da realidade, que vê a realidade de fato como um todo’, explica. Segundo ele, o que está ‘embutido’ na Encíclica Laudato Si ’ é uma ‘perspectiva ontológica, me- tafísica, é algo grandioso, porque a filosofia hoje apenas vislumbra su- perar os dualismos, o dualismo cartesiano, mas não é só isso, temos de superar o dualismo ontológico, porque a realidade foi dividida toda em pedaços e ninguém vê mais relação de uma coisa com outra’, acentua. (OLIVEIRA apud FACHIN, 2015, p. 24). E assim continua ela: Na avaliação do filósofo, o capítulo central da Encíclica papal é o quarto, que trata da ecologia integral, ‘que supera aquela visão analítica de que as coisas estão separadas entre si. O papa traz uma visão metafísica sobre a globalidade. Há uma dimensão de contingência, que não se explica por ela mesma, ou seja, trata-se da pergunta de por que existe algo e não nada. Ele repôs, contra todos os dualismos vigentes no nosso mundo, uma visão global sintética, sistemática, de ver as conectividades universais de todas as coisas’ (OLIVEIRA apud FACHIN, 2015, p. 24). Para Manfredo, depois da recusa ou de uma reinterpretação do que seria a metafísica desde Kant, a filosofia deve recuperar uma perspectiva sistemática, e tratar das ‘conectividades’, ou seja, ‘pensar o que ética tem a ver com metafísica, o que tem a ver antropologia com ética e filosofia da natureza’. E frisa: ‘Não dá mais para ficar pensando em filosofias que criam dualismos insustentáveis. O papa está diante de um certo anseio

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