Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

José Roque Junges 78 e integral que integra ambiente e sociedade na compreensão da saúde. Para essa discussão parece apropriado assumir o paradigma de ecologia integral como caminho para uma proposta de justiça sanitária. A perspectiva da ecologia integral, proposta pelo papa Francisco em sua encíclica Laudato Si’, está se tornando um paradigma de compreensão de muitas questões, porque tem uma visão holística e integral dos problemas. Ainda que o papa não tenha uma definição acabada da ecologia integral, ele oferece uma descrição e reflexão sobre vários aspectos implicados. O objetivo do capítulo é discutir uma resposta à atual crise sanitária provocada pela pan- demia da Covid-19 a partir do paradigma da ecologia integral. Ecologia Integral O ponto de partida da visão da ecologia integral é que tudo está inter- conectado, formando uma trama viva que sustenta a vida. Outro princípio, coerente e logicamente decorrente do anterior, é que os seres vivos dessa trama têm valor em si mesmos, não recebendo sua valorização porque servem ao ser humano. A natureza não é um depósito de recursos nem simples mol- dura para o ser humano, mas o conjunto ecossistêmico de interações do qual tudo depende, inclusive os humanos. Sabe-se que a proliferação dos vírus corona nos últimos anos está ligada às questões ambientais: a destruição da biodiversidade, aproximando os humanos de animais selvagens que carregam estes vírus, e a produção industrial agrícola de carne, que exige grandes aglo- merados de animais, dando origem, devido ao seu confinamento antinatural, ao vírus Influenza da gripe aviária, da gripe suína etc. Para determinar os im- pactos ambientais sobre a saúde, é necessário olhar para o todo da natureza, porque seus elementos não podem ser reduzidos a puros recursos naturais a serem apropriados, porque ela tem um valor ecossistêmico, definidor do seu uso sustentável. Por isso, o crescimento econômico necessita ser corrigido em seus automatismos processuais e simplificações redutivas aos custos, por uma economia ecológica capaz de induzir uma visão mais ampla da realidade que inclua o natural e o social. O problema ambiental é inseparável dos contex- tos humanos e sociais, pois há interação entre os ecossistemas e os diferentes mundos de referência social. A crise ambiental é sintoma de uma crise mais profunda, que é social e humana (FRANCISCO, 2015, 138-142) 2 . 2 O número nesta referência indica um parágrafo, a obra será referenciada de forma abreviada por “LS,”.

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