Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Afonso Murad 38 “UBUNTU” (LE GRANGE, 2015). Embora não seja consensual, há quem encontre pontos de contato da ecosofia com o ecofeminismo, no que diz respeito ao pensamento compreensivo (não fragmentário) e ao reencanta- mento do conhecimento (MACHADO, 2018). No horizonte do diálogo inter-religioso, coube ao teólogo Raimon Panikkar assumir a ecosofia como caminho para nutrir uma “espiritualidade da Terra”, a partir do horizonte cristão, com matizes hindus e budistas (PANIKKAR, 1994). Nesse estudo mostraremos como a ecosofia se relaciona com a ecologia profunda, segundo Naess. A seguir, delinearemos os traços da transforma- ção humana requerida pela ecosofia no pensamento de Panikkar. Por fim, confrontaremos com a visão da ecologia integral, tal como é formulada pelo papa Francisco na encíclica Laudato Si ´, sobre o cuidado da casa comum (LS,). Nosso interesse, predominantemente teológico, é mostrar os pontos de convergência desses três pensadores e líderes, em vista de uma humani- dade mais solidária, feliz e conectada com os outros seres. 1. Ecologia profunda segundo Naess 2 Arne Naess nasceu na Noruega em 1912 e morreu em 2009. Na uni- versidade da capital de seu país estudou filosofia, matemática e astronomia. Reconhecido como o fundador da ecologia profunda ( deep ecology ), foi filó- sofo, professor na Universidade de Oslo, escritor e participou no movimen- to ecológico europeu. Em 1970 iniciou o estudo da ecologia como ciência, estabelecendo uma relação original com a filosofia. Era amante da natureza e alpinista, escalando montanhas em várias partes do mundo. No seu trajeto intelectual e existencial, foi influenciado pela ética de Baruch Espinoza e a postura mística e não violenta de Mahatma Gandhi. Em 1972 Naess apresentou, em um congresso, o texto “ Os movimentos da ecologia superficial e a ecologia profunda de longo alcance ”, que marcou história. Ele denomina o conjunto de iniciativas da sociedade civil, dos go- vernos e das indústrias, para reduzir a poluição e o esgotamento dos recur- sos naturais de “movimento da ecologia superficial”, que visava somente “a saúde e a vida opulenta dos habitantes dos países desenvolvidos” (NAESS, 2007, p. 98). Em contrapartida, ele esboça as sete características da ecologia profunda (NAESS, 2007, p. 98-100). Algumas delas são de caráter filosófi- 2 Os ítens 1 e 2, sobre a ecologia profunda, resumem e retomam nossa reflexão no artigo “Ecolo- gia integral e Ecologia profunda. Superação ou sinergia?” em: Voices, 2020 – I, p. 133-141.

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