Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Josafá Carlos de Siqueira 18 te da problemática. Este fato tem ocorrido tanto nas ciências físicas como nas biológicas, médicas, sociais e humanas. No entanto, progressivamente o conceito de casa comum vem ganhando a cada dia mais espaço no mun- do acadêmico, sobretudo com o crescimento da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade no ensino e na pesquisa. No horizonte das ciências geológicas e biológicas, o conceito de casa comum planetária vai muito além das abordagens antropológicas, pois ele está relacionado com as teorias científicas do surgimento e evolução da Ter- ra. Pelo fato de que o planeta Terra, embora tenha surgido de matéria sólida como os demais planetas que fazem parte do sistema solar, a evolução das diversas formas de vida é que o diferencia, fazendo-o uma casa comum ha- bitável para a diversidade de vida surgida ao longo dos milhares de anos e de eras geológicas. No entanto, as teorias paleogeológicas, como a chamada “Deriva Continental”, nos mostram que esta casa comum que um dia foi uma única massa continental denominada de Pangea, circundada por um gigantesco Oceano Panthalasa (cerca de duzentos milhões de anos atrás), foi sofrendo fragmentações ao longo das eras geológicas. A primeira foi a divi- são em dois conjuntos continentais: a Laurásia (América do Norte e Eurásia) ao norte, e a Gondwana (América do Sul, África, Antártida, Austrália e Ín- dia) ao sul. Assim, ao longo de outras eras geológicas tiveram continuidade as divisões continentais, fazendo a casa comum mais diversificada, tanto do ponto de vista continental, como na diversidade de vida que foi surgindo e evoluindo em diferentes partes do planeta Terra. Desta forma, no olhar da ciência, esta casa comum , apesar da singularidade da Terra em relação aos outros planetas, é um lugar único e plural, em que as diferentes formas de vida e inteligência estão inter-relacionadas e profundamente interconecta- das. Porém, não podemos esquecer que diferentes fatores provocaram cinco grandes extinções em massa no planeta Terra, eliminando milhares de seres vivos e empobrecendo a diversidade biológica da casa comum . Hoje, na era do antropoceno em que vivemos, presenciamos a sex- ta extinção em massa, condicionada pela interferência do ser humano nas mudanças climáticas e nos ciclos vitais que desarticulam e destroem as ca- deias biológicas que, segundo alguns estudiosos, tem uma taxa anual de extinção muito maior do que em eras pregressas. Este poder destruidor do Homo sapiens , cuja história teve início há cerca de trezentos mil anos, é algo muito pequeno diante dos milhões de anos do surgimento da vida nesta casa comum planetária. A partir desses fatos é que nasce o apelo ético do cuidado, da solidariedade e da responsabilidade do ser humano para com

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